sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A primeira vez.


Eis que já estou na terceira, mas não pude deixar de lembrar como tudo aconteceu.
Diferentemente do que se deva imaginar não é um relato poético sobre gravidez e maternidade, na verdade, é um relato fiel e traumático sobre a primeira vez em que pari.
Eu morava em Piracicaba e futuro marido em Niterói, eu solteira ele casado, eu pirada ele caretíssimo, minha família louca a dele tradicionalíssima, enfim estávamos apaixonados e enfim, nos descuidamos.
Atrasou um único dia, mas eu já sabia o que era. Fui até o Maranhão para contar no meio dos Lençóis "tô grávida", não fui levada a sério "uma semana de atraso?"
Era verdade, estava mesmo, não sabia o que fazer, se queria ou não, mas quando tive a oportunidade de me livrar daquilo e continuar a vida como se nada tivesse acontecido, vi que seria incapaz, eu queria.
Continuei em Piracicaba e ele em Niterói, não morava mais com a agora ex, a família não entendeu nada (a dele) ainda mais depóis que apareci: toda tatuada, com o cabelo raspado e grávida. Só fui pro Rio com 8 meses.
A sogra e afins enchendo o saco: não pode isso, não corra, não faça aquilo e eu que não tive sequer um enjôo e ia pra faculdade de bicicleta ignorando tudo mas, com uma vontade infinita de mandar todo mundo prá algum lugar não muito confortável.
Chegou o dia: vamos para o hospital e o pai da criança tem a infeliz idéia de buscar sua filha de 6 anos para ir junto. Ela só não estava mais agitada do que eu que sabia que um bisturi iria cortar meu ventre de fora a fora e iria voltar para casa com um novo e desconhecido ser nos braços.
A criança parecia uma pipoca, pulava e gritava, queria chamar a atenção a todo custo e eu lá com uma enfermeira passando uma gilete gigante em mim.
A avó-sogra chegou e o avô-sogro também, também chegou uma tia e eu lá naquela situação com aquele avental bunda de fora e todo mundo falando que eu nunca mais iria dormir na minha vida, a essa altura eu já estava implorando pelo bisturi e uma anestesia bem pesada.
Vai prá sala, toma a anestesia (horrível), passa o bisturi e então tudo pareceu sem importância quando eu vi aquele serzinho que saiu de mim, todo melecado, com cara de joelho e mesmo assim sendo a visão mais linda que eu já tivera em toda minha vida.
A magia durou alguns segundos, já começou a berrar, passam os pontos no ventre e vamos para o quarto, minha sogra passaria a noite comigo, todos foram embora, que alívio.
Me perguntaram se eu queria ficar com o bebê no quarto, falei que não, já que era a única oportunidade do resto da minha vida eu iria dormir e o fiz pesadamente e sem culpa.
Abri os olhos lentamente na manhã seguinte e... fodeu, tinha uma galera olhando prá minha cara: cadê a criança? Tá tudo bem? Como foi?
Cunhado e concunhada + 3 filhos
Cunhada e concunhado + 1 filho
O pai da criança + 1 filha pilhada
Tia
Vó do pai + Vô do pai
Sogro + sogra
Minha mãe chegando de Sampa
Minha avó.
Fiquei sem reação, o que esse povo tava fazendo dentro do meu quarto, mutilando a minha intimidade num momento de total fraqueza e desamparo até para mandá-los tomar no *?
Tá com fome? Eu tenho um biscoito. Ih, mas você não pode comer.
Tá tudo bem? Como se sente? Não fale se não você ficará com gases.
Nossa, você tá gorda pacas.
Quase querendo a morte, me trazem a criança. Era a primeira vez que eu ia amamentar e tinham, ao menos, 15 pares de olhos olhando para o meu peito, vontade de chorar...
Foi... passei o pior dia da minha vida quando deveria ter sido o mais mágico. Algumas visitas e traumas depois, me liberaram para voltar para casa. Ficarei em paz, pensei ingenuamente.
Cinco minutos após adentrar minha casa com o pai, a criança e minha mãe, toca a campainha, eram meus sogros e a cena mais sem explicação que eu jamais voltaria a ver na minha vida. Começou assim:
- Eu percebi que a torneira da pia do banheiro é muito alta e espirra água, então vim trocá-la. Entrou o sogro.
- Eu vim junto prá te ajudar. Entrou a sogra.
O pai comovido com aquilo tudo chegou a conclusão que aquela era a melhor hora para instalar o giroflex da televisão e sacou uma furadeira. Eu, mais uma vez, sem reação.
O barulho era infernal, era furadeira, chave inglesa, água, me traz isso.
Fui amamentar, minha sogra segurou meu peito e a cabeça da criança (????!!!!!!), dormiu.
O pai pediu uma faca, dei e 10 segundos depois uma explosão, surge o pai como cabelo em pé e a faca toda queimada, meu quarto era uma zona de guerra, todas as roupas por cima da cama, uma poeira do cacete e o pai em cima disso tudo com uma furadeira na mão.
Não aguentei: explodi. Comecei a chorar que nem uma maluca e me tranquei no quarto da criança com a esperança de que quando eu saísse dali, não tivesse mais ninguém no mundo inteiro se não eu e minha pequena, me senti segura até que chegou o grand finale:
Minha sogra esmurrando a porta do quarto e gritando:
MINHA FILHA, SAI DAÍ QUE VOCÊ ESTÁ COM DEPRESSÃO PÓS PARTO, NÃO VAI FAZER UMA BESTEIRA!
Depois disso eu decidi que nunca mais iria deixar passar a oportunidade de mandar alguém tomar no cu quando merecesse e foi o que eu fiz, assim, nunca mais fui a mesma.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A fada dos dentes

Fui desiludida muito cedo. Papai e mamãe eram comunistas (não que isso fosse um defeito). Nunca me contaram histórias sobre o papai noel, o coelho da páscoa ou a fada dos dentes.
Tornei-me uma cética, agnóstica ateísta: não acredito em deus, espíritos ou milagres;mas acredito na mágica que a infância tem.
Lembro de um tempo em que eu acreditava poder flutuar e me via dois palmos acima do chão dando braçadas para deslizar no ar e até hoje quando penso nissso fico em dúvidas se eu realmente não voava. Mas ninguém voa! Assim como papai Noel não existe e coelho não põe ovo, ainda mais de chocolate!
Enfim,eu tenho duas filhas e fico realmente aflita sobre o que e como contar as coisas.
Maria tem 6 anos e uma capacidade intelectual maravilhosa, brincamos de diferenciar bichos (aves, mamíferos, répteis,etc), de fazer contas, de tentar explicar os fenômenos da natureza.
Nunca falei sobre deus, mas também não recrimino a avó a falar, só conto a versão real dos fatos (sobre a riqueza da igreja, seus interesses, as cruzadas, a inquisição,etc).
O fato é que por mais que eu queira que elas guardem um pouco dessa magia, desse faz de conta, elas não acreditam em nada!
O último natal nem se falou em papai noel (embora esse eu ache péssimo, papai noel hoje é um mercenário e, devo confessar, já verbalizei isso para as garotas).
A verdade é que fiquei frustrada mesmo com a tal da fada dos dentes. Maria perdeu seu primeiro dente há dois dias, armei um escândalo e fiquei impressionada como cresceu rápido e aquela coisa toda, o fato é que eu falei da fada do dente e Maria disse que deixaria o dente para a fada em troca de moedinhas. Lindo!!! Fui dormir e acordei já no dia seguinte no susto porque lembrei que não tinha nem pegado o dente e nem deixado as moedas, entrei pé ante pé no quarto, passei a mão embaixo do travesseiro e... nada! O dente não estava ali, apavorada com a idéia de perder o dente já estava quase arrancando a garota da cama, sacudi o travesseiro, olhei embaixo da cama e nada. Bom, se eu não achei ela não achará e assim deixei R$ 2,00 debaixo do travesseiro com a alma lavada pelo dever cumprido. Quando estava saindo do quarto, bati o olho em cima da cômoda e eis que o dente estava lá, guardei-o na minha caixinha de jóias e fiquei feliz com tudo ter dado certo.
Maria acordou e eu prontamente fui verificar a situação. Ela estava puta! Queria o dente de volta e nem olhou o dinheiro. "Mamãe! Eu quero mostrar o dente para os meus amigos!" E armou a maior choradeira para meu espanto e desespero.
Arrasada devolvi o dente e guardei os R$ 2,00 e a criança ficou feliz sem fada.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Dona de casa?



Eu? Pois é, eu.

Eu a punk , louca, totalmente sem limites, irresponsável, inconsequente, impulsiva.

Eu, eu que achava que morreria com 20 anos como vários amigos.

Eu que sobrevivi.

Eu que tenho uma incrível inteligência matemática, conhecimentos sobre história, geografia,biologia, literatura, noções de química e física, eu que tenho uma facilidade invejável de memorização e aprendizado, eu que passei em 7 vestibulares federais e em concurso público, eu que tenho uma ótima aparência (quando quero) e uma facilidade enorme com as pessoas.

Pois é, eu estou aqui fazendo as vezes de dona de casa. Tentei aqui, ali e na verdade eu não sei o que fazer, não consigo encontrar algo que eu realmente goste. Vou prestar mais um concurso, e acredito que posso passar, mas não consigo me imaginar funcionária pública, mesmo que seja isso o pão das minhas filhas.

Tantas coisas que eu gostaria de fazer... O último, ou mais recente pensamento, foi a educação física, me sinto meio "tia" prá me meter nisso agora, mas o que eu maios gosto de fazer é ensinar e praticar esportes, eu poderia unir uma coisa a outra. Enfim, seria mais um vestibular e 4 anos de estudo, eu tenho que passar num concurso prá poder bancar isso.

Bom, seja como for, eu espero que a empregada volte logo das férias, a casa está de cabeça prá baixo e eu realmente não tenho saco prá isso!