quinta-feira, 26 de junho de 2008

Da rotina

- Bom dia, Lôra!
- Ahhhhh, hummm, nheeeee
- Bom dia, vamos tomar café.
- Grunhidos.
- Vamos, mamãe vai trabalhar, me dá um beijo.
Beijo
- Oi Gôda.
Risos, pulos e sons não possíveis de entender.
Campainha. Sandra.
- Sandra, meu vestido lindo e caríssimo está manchado.
- Ah, é o sabão.
- E desde quando sabão mancha roupa?
- Manchou agora.
- Tá, esquece. Não lave mais os vestidos, nem as blusinhas, nem aqueles shortinhos mais delicados. Aqui, faz o seguinte, só lava jeans e camiseta.
Telefone.
- Oi é Luisa ou Sandra?
- Luisa.
- Eu sou Vera, irmã de Sandra e blá, blá, blá, a história da vida - Posso falar com Sandra?
- Sandra é tua irmã.
Surge Helena. A mão, o rosto, a roupa, tudo melado de manga.
- Qué mã?
- Não minha filha, obrigada.
- Qué? Esfregando tudo na minha cara.
- Claro minha filha, como recusar.
- Sandra! Me faz um café.
- O que aconteceu com minha maquiagem?!!!!
- A Helena tentou se pintar...
- E você deixou.
- Eu não vi.
- Ela destruiu o vermelho novo que eu tinha acabado de comprar e tentou pintar o resto da casa também, a necessaire está intocável, ahhh.
Anotar na agenda: necessaire e batom vermelho novos.
- Manheeeeeeeee!!!!!!
- Quê?
- Helena!
No quarto duas crianças disputam um gibi.
- Manh~e eu peguei 1º e Helena rasga tudo.
- Helena, solta!
Solta e chora, berra.
Sento na cama.
- Vem, todo mundo dando abraço na mamãe.
Helena se joga, Maria se aconchega.
Helena soca, Maria berra.
Meu dia começa.
- Mamãe vai trabalhar.
Beijos, beijos, beijos, baba, baba, baba.
No carro...
Telefone.
- Manheeeee, posso jogar na internet?
- Você sabe ligar?
-Sei.
- Sabe qual o site?
- Sei, disney.
- Você sabe escrever isso?
- Sei.
- Então pode.
- Manheeeee, a Helena...
- Minha filha, eu tô dirigindo.
- Tá então traz dinorock.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Crescer

Eu tenho uma amiga. Essa amiga sempre foi "esquisita", improvisava peças de teatro no pátio da escola, para desespero de Seu Renato que pedia às amigas mais próximas: tira ela daí. Não adiantava, nós não tirávamos, ela não saía e ninguém entrava para aula enquanto o show durasse. Ela era boa. Passei anos sem vê-la, uns 10 na verdade e quando nos reencontramos foi como se tivessem passado somente alguns meses de férias.
Não estamos mais na escola, não temos mais dezoito anos mas, graças à genética e a alguns cuidados básicos só mudamos para melhor e continuamos com a mesma carinha.
Ela tinha virado artista (o que mais), escreveu um livro, produziu um programa de tv e não, ela não era rica, mas porra, como é feliz.
Eu demorei para ter coragem de seguir sonhos. Fiz engenharia, embora tivesse prestado dança no mesmo ano. Eu fiz economia, embora o coração dissesse: vai desenhar. Eu prestei um concurso para o Bco do Brasil embora TUDO dissesse: querida, não tem nada de você aí. Abri uma loja de informática e continuava não tendo eu.
Medo, acho que é isso que acontece quando crescemos. Sim, eu continuo tendo medo eu só pus em prática algo que eu escutei quando era bem novinha: A melhor forma de perdê-lo é partindo prá dentro. É o que estou fazendo.
Agora me sinto gente grande, também por toda carga de responsabilidade que se leva com duas filhas e conta e tal mas, mais por saber que a responsabilidade pela minha felicidade é minha. Só eu tenho o poder de fazer opções sobre a minha vida, seja para o bem ou para o mau. Tudo que eu sou, que eu penso, que eu sinto, é resultado de opções que eu tomei na minha vida. Desde acatar a pressão da família e ir para engenharia, como de nunca mais por uma droga no meu corpo, até não aceitar a pressão da mesma família e fazer o que eu quero.
Isso sou eu: as minhas opções.

domingo, 22 de junho de 2008

1000 Imagens - Fotografia

1000 Imagens - Fotografia

Patinho feio

Estava na casa de minha sogra, tinha comigo fotos de escola, aquelas que tiramos com a turma, minha mãe tinha mandado todas as minhas fotos prá mim (não entendo isso, eu nunca me desfazeria das fotos de infância das minhas filhas), enfim, brinquei com minha sogra: Tente adivinhar quem sou eu na foto. E ela, sem pestanejar apontou: Essa aqui, a mais bonita.
Fiquei uns minutos analisando aquela foto e não pude discordar, eu era a menina mais bonita da turma da segunda séria do colégio Dínamis de botafogo em 1986.
O que me deixou chocada! Voltei alguns anos e pude me lembrar nitidamente do lixo que eu me sentia, nunca consegui me achar bonita, pior, eu me achava horrorosa, chata, burra,sem qualquer tipo de atrativo para qualquer pessoa. Anos de terapia não conseguiram me resolver e numa conversa boba com minha sogra eu pude perceber o que me deixava tão mal: ninguém nunca tinha me falado. Não só não me falaram o quanto eu era bonita como também sempre me fizeram acreditar que nada do que eu fizesse seria bom o suficiente. Você mexeu no cabelo. Essa foia resposta da minha mãe quando eu perguntei como tinha me saído na minha primeira apresentação de balé aos 5 anos. Luisa, você me lembra a porquinha gorda e rosa do comercial das casas da banha. Esse é seu desenho, mas esse nariz está horrível, deixe eu consertar. Luisa você é muito baixa para jogar vôlei. Luisa você é muito grande para fazer ginástica olímpica. Você está gorda. Você está muito magra. Muito musculosa.
E assim eu cresci, acreditando realmente que eu era pior que qualquer coisa.
Essa total falta de auto estima foi o que me acompanhou a vida e me fez quase acabar com ela antes dos 20 anos.
Eu cresci, fiz duas faculdades federais (USP e UFF) não terminei nenhum dos cursos que agradariam minha mãe. Passei num concurso pro banco do brasil, mas com uma nota menor que a dela (isso foi bem frisado), me demiti, abri uma loja que vai muito bem, obrigada. Larguei a loja e me dedico hoje ao que gosto, abri um centro multi cultural. Tenho duas filhas lindas e maravilhosas de quem tenho imenso orgulho e elas sabem.
Tive que esperar 30 anos prá descobrir sozinha o que todo mundo já sabia: eu sou bem bonita, inteligente, ousada, divertida, carinhosa e outras mil qualidades que não caberiam aqui.
Cara, porque ninguém me falou! A doença não era minha. Era dela.


Maria dançou quadrilha ontem na escola e eu não tive como não ficar toda boba. Em dado momento da coreografia eles dançam um forrozinho de parzinho e tudo e não é que Maria e Bê (seu par) dançaram mesmo. Com direito a rodopios e passinhos de dança de salão. Foi muito fofo, eles foram para o meio da roda e começaram a dançar, ficou todo mundo passado. Filmei tudo, agarrei a minha loura, disse o quanto é linda, fofa, ousada e maravilhosa e voltamos todos felizes prá casa com sensação de missão cumprida.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

São sete horas da mnhã e eu estou acordada já faz um tempinho. Vou trabalhar e ahh, ás vezes bate um desânimo. Mamãe queria que eu prestasse concurso público, mamãe e várias outras pessoas. Eu até tentei e trabalhei no banco do brasil por quase um ano, mas não dá, é um desperdício da minha inteligência, não aguentei e pedi demissão, para alegria minha e pânico de alguns. "Você é louca, banco do brasil é trabalho prá vida inteira", Deus me livre de passar os próximos trinta anos da minha vida trabalhando lá.
Enfim, depois de algumas outras experiências profissionais, que me deram algum $$$$, resolvi fazer o que gosto e, de preferência, ganhar algum troco também. Abri um espaço cultural. Sim com aulas de dança, teatro, circo, música, desenho, oficinas para as crianças e mais um monte de idéias que eu tenho. Mas eu queria que ele já estivesse bombando, que tivesse lista de espera, que a caras viesse fazer matéria... Não veio. Tá, ele é pequeno, a divulgação começou a sair agora, e só tem 3 semanas que ele existe, mas me dá uma ansiedade, um medo de que nada dê certo. Respira fundo e vai! Tá na hora de eu abrir as portas.

domingo, 8 de junho de 2008

Relacionamentos

Vocês têm noção do que são dez anos com uma mesma pessoa. Se respondeu que é um inferno, acertou. Se respondeu que é o céu, também. Doido, eu sei, mas só quem passou por isso para entender.
No começo é tudo de bom, paixão louca, tesão a mil, descobertas, o príncipe idealizado. Aí o tempo passa...
O tesão continua em cima, a paixão também, mas você descobre que o cara não é O cara. Sim, ele tem vários defeitos e... nossa! Você também!
Sim ele é humano, acorda com bafão, vai ao banheiro, não libera o controle da TV (os homens têm certo problema com isso), tem cueca furada, ex mulher, mãe e outros que você ainda vai descobrir com o tempo.
Tá, tudo bem, eu também tenho tudo isso (tirando o problema com o controle remoto) e o mais engraçado é que é bom.
Sim, o mesmo cara que você descobriu que vai ao banheiro e que não faz com cheiro de rosas, é o cara que te conhece a fundo.
É o cara que te viu amadurecer e que apoia incondicionalmente seus projetos (por mais loucos que pareçam), te viu barriguda duas vezes e continuava apaixonado, mesmo quando você se sentia a mulher mais feia do mundo e jurava que nunca iria recuperar o corpo, deu o ombro prá você chorar e ficou escutando horas as crises que nem mesmo você entendia, comprou aquele vestido esquisito e carésimo com o qual você jurava que não poderia viver, fingiu que não percebeu quando você tentou pintar o cabelo sozinha e fez a maior merda, é o cara que conhece todo o seu corpo e sabe exatamente quando e onde tocar.
Pois é, eu nunca acreditei em casamento, amor e família e até pouco tempo, mesmo tendo tudo isso, eu continuava sem acreditar (não tive bons exemplos na infância), precisei passar por uma decepção enorme prá perceber que, no fim, quem está e sempre esteve ao meu lado foi ele.
Mesmo eu fazendo uma merda atrás da outra, querendo pular fora dali, sair correndo, ele segurou a onda. Que bom! Somos uma família feliz e mais uma vez eu cresci mais um pouquinho. Mas foi só um pouquinho. Não tenho a intenção de ser adulta.