terça-feira, 19 de agosto de 2008

Filhas

Tenho uma amiga que está tendo problemas com a filha adolescente. Catorze anos, quer ir embora de casa, caso comum.
Ela passou lá no espaço ontem, estava visivelmente abalada, eu já tinha conversado com um advogado e ,ao menos, tranquilizei-a com o fato de que a garota não conseguiria nada, sentamos para tomar um café e eu falei sobre os limites que os filhos têm que ter. Fácil onde eu estava, minha filha mais velha tem 6, ainda não chegou a total rebeldia. Ela pediu para eu passar na casa dela para ver se a garota iria pelo menos ao curso e, chegando lá, assisti a um show de horrores.
As duas gritavam e se agrediam a garota gritava que odiava a mãe e jogou tudo o que tinha no quarto no chão. Fiquei estática assistindo aquilo, uma sensação de "já vi isto antes", não só vira como vivera: aquela garota era eu na minha adolescência, a mesma raiva, o mesmo medo, a mesma vontade de ir embora para qualquer lugar, o mesmo pedido de socorro.
Pedi 5 minutos com ela e fiquei ali, contando para ela o que aconteceu comigo, como eu perdi oportunidades, como eu me meti em roubadas e como eu tive sorte em estar viva, não sei se ela ouviu qualquer coisa, mas desfez as malas.
Conversei com a mãe dela já longe dali e contei como as coisas tinham acontecido comigo e como tinham se resolvido. Contei como eu cresci quando parei de terceirizar meus problemas, assumi minha parcela de culpa e resolvi o que era para eu resolver. Contei como eu me dou bem com minha mãe hoje (a mesma de quem eu tinha um ódio mortal aos 14), mesmo sem ela ter mudado uma vírgula: EU me mudei!
Fui buscar as meninas no colégio, saímos todas para tomar um sorvete e demos boas risadas com as histórias de Maria, deixei-as na casa da avó mas não voltei para o trabalho antes de terminar o dever de casa com Maria, quando chegamos em casa deixei falarem sobre seu dia, escovei o dente de todo mundo ajudei a trocarem de roupa e pus cada uma na cama com um beijo.
Me senti feliz pelas minhas filhas, por poder falar para elas que as amo e sinto orgulho delas serem exatamente o que são. Não quero cometer os mesmos erros das últimas quatro gerações e sei que estou cometendo os meus, mas me esforço para que elas aos 14 possam não necessariamente gostar de mim, mas que possam gostar de si mesmas.

domingo, 10 de agosto de 2008

Para não dizer que não falei em flores


Não tive uma boa relação com meu pai. Não que nos déssemos mal ou brigássemos, nós apenas não convivemos o suficiente.
Se separaram, ele e minha mãe, quando eu tinha 9 anos e essa foi definitiva, pois antes, já havia sido noticiada umas 4 vezes.
Enfim, depois disso mudamos para São Paulo e, as visitas que eram de 15 em 15 dias, ficaram cada vez mais esporádicas.
Eu tinha muita raiva, raiva por não ter um pai presente, por ter uma mãe que não o supria (alguma consegue?), raiva por não entender o que tinha acontecido.
Um dia crescemos, e faz parte do crescimento (pelo menos do meu) aceitar mais as pessoas e ver a realidade: todos temos problemas, pais e mães não são super-heróis perfeitos e infalíveis e meu pai fazia parte dessa realidade.
Depois que voltei para o Rio, já com 24 anos, tentei estreitar os laços e recuperar alguma, qualquer coisa com ele. Mas ele já estava tão cansado que a impressão que eu tinha é que ele meio que já tinha desistido de tentar qualquer movimento de mudança e continuava o mesmo cara meio que alheio a tudo.
Descobri muitas coisas sobre ele no pequeno espaço de tempo que compartilhamos:
Por trás da sua inteligência e consequente arrogância engraçada, debochada e irônica havia um cara que sabia que tinha perdido muita coisa na vida ou por acreditar muito no que queria ou por muito orgulho.
Perdeu 7 anos de sua juventude em uma prisão sendo torturado e humilhado por acreditar tanto em um ideal que foi capaz de pegar em armas, assaltar bancos, e participar de uma guerrilha de esquerda nos anos de chumbo. Perdeu 7 anos da vida no mesmo lugar onde hoje eu me divirto nas férias.
Perdeu o grande amor da sua vida porque não podia falar "eu te amo". Perdeu o convívio com os filhos por motivos parecidos.
Perdeu grandes empregos porque se achava muito mais inteligente que seus chefes (e realmente o era) e não conseguia engoli-los.
Queria eu ter um décimo da sua inteligência, queria eu ter um ideal tão forte a ponto de pô-lo a frente da minha própria vida, queria eu ter aprendido mais coisas com ele. Mas cada um vive com o que tem.
O que eu tenho é a lembrança de ter podido apresentá-lo a sua neta e vê-lo realmente feliz com isso, ter podido perdoá-lo antes que ele adoecesse e isso parecesse remorso, o que eu tenho é a consciência leve por ter pedido ao médico que o deixasse morrer ao invés de ficar assistindo àquele grande homem definhar aos pouquinhos, impotente em sua condição.
O que eu tenho é a lembrança de uma pessoa que teria de tudo para me deixar mal, mas me fez um bem danado quando me deixou conhecê-la e perdoá-la por algo que fez e não tinha nem noção.
Nesse dia dos pais me sinto orgulhosa do meu, onde quer que esteja.
Como ateu convicto que era, pegaria mal falar que está no céu ou qualquer coisa que o valha.
Mas a lembrança dele ficou, assim como o gosto pela matemática, o humor ácido, as preocupações sociais, o ceticismo, o olhar, a capacidade de pôr ordem na casa sem precisar bater ou gritar, a ética, a honestidade, o vício do cigarro. Isso tudo eu guardei dele.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A tal da tripla jornada


Eu achei que eu não pudesse reclamar. Afinal eu tenho empregada, carro, van que leva as meninas para escola, duas avós para socorrer, enfim, todo aparato necessário para eu poder viver e trabalhar com duas filhas.
Mas o mundo não é perfeito e embora eu não precise lavar a louça, eu tenho que me virar para outras coisas.
O fato é que eu também não quero terceirizar tudo na vida das minhas filhas, eu gosto de buscá-las na escola e de ficar com elas a noite, mas tá foda.
O carro que deveria ficar comigo não fica, então tenho que buscá-las de ônibus. Sim, eu sou fresca e não gosto de transporte coletivo, ainda mais o que eu tenho que pegar as 17:00 para pegá-las: lotado, com um povo feio e mal educado dentro. Acaba com meu humor.
Na volta o ônibus vem vazio, mas estou com as duas. Helena pula que nem uma louca até resolver dormir e Maria quer toda a atenção do mundo. Depois que eu desço ainda tenho que carregar Helena no colo por umas quatro quadras até a casa da avó, pois praticamente todo dia estou tendo aulas a noite.
Quando termina a última aula (22:00) volto para buscá-las, Ricardo está esperando com a cara de quem não faz idéia do que é minha saga. Chegamos em casa, ele põe Helena na cama, deita com um prato de frutas e fica, literalmente, me esperando. Enquanto isso eu estou com a mais velha: Escova os dentes, faz xixi...
Quando Maria resolve dormir, depois de escovar os dentes, fazer xixi, ouvir historinha, pedir um copo de leite e cafuné eu ainda vou ver se tem alguma coisa da escola (dever, taxas, passeios, etc).
Acaba o dia tarde e tudo o que eu quero é tomar um banho e cair dura. Mas o digníssimo maridão quer que eu esteja linda, sexy e sedenta, logicamente não estou.
Segundo ele, tudo seria mais fácil se eu não quisesse ser tão mãe(?!) e simplismente terceirizasse tudo "fala quanto que eu pago" me dá vontade de vomitar.
Não sei como vou resolver a coisa, só sei que tá punk. Fico aqui pensando e o dia que eu não puder? Não tem ninguém prá cobrir, embora as filhas não sejam só minhas, toda a responsabilidade é.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A mal-comida


Tenho uma relação de paz com meus vizinhos. Até porque não faço a menor questão de conhecê-los, digo bom dia, boa tarde, boa noite e acabou. Mantenho a educação e a distância. Não sei nada da vida deles e eles não sabem nada sobre a minha.
Quando abri um negócio e loquei um espaço que dividia o terreno com outros 3 imóveis, resolvi manter minha política de boa vizinhança e me preocupo muuuuuuuito em não incomodar meus caros vizinhos.
São eles: um casal gay que tem um salão e são uns fofos, uma coroa de quem eu não lembro o nome, mas que é super atenciosa e uma família que, acreditem, eu nunca vi e não faço idéia de quem sejam.
Eis que a matriarca da família sinistra está me enchendo o saco sem sequer ter algum dia me visto.
Encarnou com os banners que eu pus na MINHA entrada, acha que as pessoas que frequentam o espaço são malucas (no sentido pejorativo da palavra) e disse que vai me processar (?????).
E eu nunca vi a cara dessa mulher, porque ela não falou nada disso prá mim e sim pro meu vizinho fofo que não tem nada com a história.
Enfim, cheguei a conclusão que uma mulher para ser tão chata e gostar tão pouco de outras pessoas que são felizes e buscam seus sonhos, é muito mal comida. Sim, tanto recalque, tanta raiva, tanta amargura só podem ser causadas por falta de um bom caralho (falando em português claro).
Uma mulher assim precisa urgentemente de um michê, gogo boy, leopardo, garoto de programa ou qualquer coisa que o valha.
Sinto pena dela, essa é a verdade. Não poderei resolver o problema dela e nem conheço alguém tão corajoso que possa. Por isso acionei advogados (chiquérrima, não?), estou legalizando todas as placas na prefeitura e estou louca para que ela venha bater a minha porta. Direi uma frase que ela deve estar esperando a anos: FODA-SE!!!!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Imaginando oceano, as crianças brincam na poça d'água." (Carlos Novais)


"De todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?" (Ernest Hemingway)
"O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade." (Karl Mannheim)
"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar."(Monteiro Lobato)
"Nada assombra quando tudo assombra: é a idade das crianças."(Antoine Rivarol)
"Ainda há gente que não sabe, quando se levanta, de onde virá a próxima refeição e há crianças com fome que choram." (Nelson Mandela)
"Os homens temem a morte, como as crianças temem a escuridão." (Francis Bacon)
"Não devemos explicar nada a uma criança, é preciso maravilhá-la." (Marina Tsvetana)
"Mais vale sermos expulsos do convivio dos homens que detestados pelas crianças." (Richard Dana)
"Todas as grandes personagens começaram por serem crianças, mas poucas se recordam disso." (Antoine de Saint-Exupéry)
"A criança é um por natureza um ser do encantamento, um ser que experimenta a leveza, e que não retém a dor." (Cris Griscon)
"Crianças e vinho contam a verdade." (Schottus)
"Se o ensino é superior, a pessoa que o abraça é digna de respeito. Assim sendo, desprezar essa pessoa é o mesmo que desprezar o próprio ensino. Isto é comparável a atitude de censurar uma criança, cujo ato é ao mesmo tempo uma censura aos pais." (Nitiren Daishonin)
"O estudo, a busca da verdade e da beleza são domínios em que nos é consentido sermos crianças por toda a vida." (Albert Einstein)
"Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança." (Victor Hugo)
"Quero tornar-me aquilo que sou: uma criança feita de luz." (Katherine Mansfield)
"Crianças corrigem-se com muita facilidade." (Cícero)
"Só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia-a-dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem além de cinco minutos..." (Mário Quintana)
"As crianças de agora não se podem dirigir." (Robert Garnier)
"As crianças acham tudo em nada, os homens não acham nada em tudo." (Giacomo Leopardi)
"Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo. Mas nem todas as respostas cabem num adulto." (Arnaldo Antunes)
"No amor de uma criança tem tanta canção pra nascer, carinho e confiança, vontade e razão de viver." (Cláudio Nucci)
"Todas as crianças deveriam ter direito à escola, mas para aprender devem estar bem nutridas. Sem a preparação do ser humano, não há desenvolvimento. A violência é fruto da falta de educação."(Leonel Brizola)
"A criança é a consagração da vida." (S. Poniazem)
"Imaginando oceano, as crianças brincam na poça d'água." (Carlos Novais)
"As crianças não têm passado, nem futuro, e coisa que nunca nos acontece, gozam o presente." (Jean de La Bruyère)
Eu não escrevi nada, mas eu penso tudo.